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"Walking Football Brasil, Entrevista" com Andréa Silveira fundadora da Quintal de Ideias



Andréa Silveira da Silva, é dessas pessoas que sempre queremos ter por perto, e que, evidentemente amplia a visão de impacto social de todos com quem dialoga. É fundadora da Quintal de Ideias - Inovação Social, empresa que foca nos desafios contemporâneos da sustentabilidade e as diversas conexões, interfaces, interesses e diálogo entre as empresas, sociedade e organizações da sociedade civil.


Numa entrevista rápida, feita por Ricardo Leme - diretor da Walking Football Brasil, Andréa falou sobre a importância do diálogo e senso de coletividade, sobre investimentos sociais para organizações voltadas aos 60+, como a Walking Football, sobre os desafios de ser uma mulher empreendedora e as formas como olhamos para o futuro, enquanto sociedade.


Andréa é relações públicas, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com Mestrado em Gestão Contemporânea das Organizações pela Fundação Dom Cabral, uma das melhores escolas de negócio do mundo, dentre outras formações dentro e fora do Brasil. É gaúcha de Porto Alegre, casada, 1 filha, voluntária, pesquisadora, curiosa, apaixonada pela colaboração, inconformada com a desigualdade social e motivada a encontrar caminhos e soluções. Com ampla experiência, Andréa se dedica há mais de 20 anos na área de sustentabilidade e comunicação, tendo desenvolvido projetos para empresas de grande porte como Vale, Votorantim Metais, Pepsico, Votorantim Celulose e Papel, Consórcio Rio Jequitaí, Elevadores Atlas Schindler, Arteris, SENAC – SP, entre outras. Andréa é conselheira consultiva da Walking Footaball Brasil.


Confira a entrevista que Andréa Silveira, concedeu à Ricardo Leme da WFB:


1. WFB: Andréa, para começar, todos nós temos alguma história sobre futebol, seja ela animada, triste, uma memória boa, ou seja, a nossa história sobre esse esporte. Qual é a lembrança ou história que você tem sobre o futebol?


Andréa Silveira: Eu tenho lembranças lindas sobre futebol! Sou gaúcha e gremista e tenho muito amor pelo futebol, desde muito pequena, porque o meu pai ,falecido em 1994, era fanático pelo Grêmio. Gostar de futebol na minha família significava ter um lugar no sofá da sala, com a tv ligada sem som, e o rádio narrando a partida, para assistir aquela paixão toda que o meu pai dividia com todos nós. Lembro quando o Grêmio foi Campeão do Mundo em 1983 e o meu pai chorou muito de alegria. Depois, na adolescência joguei futebol de salão como zagueira e ganhei o apelido de “Baresi” ex-jogador de futebol italiano. Acho que eu tinha algum talento para o esporte inspirada pelo meu pai e pelo aprendizado de assistir à inúmeras partidas de futebol.


2. WFB: O futebol carrega um histórico muito machista, um desses capítulos ruins, é o fato de as mulheres serem proibidas de jogar o esporte até 1979. Isso felizmente vem mudando e temos mulheres maravilhosas praticando o esporte, inclusive Walking Football. Como você olha para esse momento tão importante das mulheres nos diferentes espaços sociais. Mulheres fortes, como você, empreendendo, transformando a sociedade?


Andréa Silveira: Eu olho para esse lugar, reconheço os avanços, mas entendo que precisamos lutar pelo nosso espaço o tempo todo. Não podemos relaxar nunca na luta por direitos porque ainda existe uma força gigante puxando para trás, com a intenção de retomarmos a padrões que não são mais aceitáveis. Precisamos estar atentas sempre. Mesmo com tudo que temos a comemorar, ainda tem um caminho longo para seguir onde os homens precisam embarcar nessa luta também. Acredito muito nas meninas e meninos das próximas gerações que já cresceram vendo as mulheres da família em posições de destaque e que podem construir espaços mais saudáveis e justos para o convívio social. Ser empreendedora é ainda essa luta diária pelo lugar ao sol. Para chegar até aqui, eu precisei ter muita resiliência para superar todas as violências que já sofri por ser mulher. Sempre precisei acreditar que eu era muito mais do que aquele lugar que queriam que eu ocupasse.


3. WFB: Como é a Andréa empreendedora e quais são os desafios de atuar movida pelo impacto social?


Andréa Silveira: Eu venho de uma família onde minhas avós eram empregadas domésticas. Meu pai teve a oportunidade de fazer um curso técnico e chegou à gerência de uma loja de departamentos por ser um excelente vendedor e gestor de pessoas. E a minha mãe sempre foi inspiradora, muito acolhedora e otimista frente aos desafios que a vida apresentava. As palavras desistir ou desanimar nunca estiveram no vocabulário dela. Comecei a trabalhar com 16 anos como auxiliar de creche em uma associação comunitária vinculada à Igreja Católica. Cuidava de 20 crianças entre 02 e 03 anos. Também estudei em uma escola pública muito politizada em Porto Alegre, com excelentes professores de história, sociologia e teatro. Conto tudo isso porque essas experiências de vida me formaram na empreendedora que eu sou hoje. E com tudo isso que eu já vivi, terminei me transformando nessa empreendedora indignada e inconformada com a desigualdade social e movida a encontrar caminhos e soluções. Trabalhar com impacto social tem que ter essa dose de indignação para dar certo e te mover. Se você achar que está tudo bem, que a vida é assim mesmo, você precisa procurar outro propósito na vida. Trabalhar com impacto social te exige uma energia ímpar que faça você se mover e pensar com inteligência como mover estruturas.


4. WFB: Conta um pouquinho para a gente da Quintal de Ideias, como surgiu, o que você mais gosta nesse seu desafio?


Andréa Silveira: A Quintal de Ideias é meu projeto de vida. Eu trabalhava como executiva de uma empresa e embora o meu trabalho estivesse no auge dos resultados, e eu convivesse com uma equipe que eu amava e admirava muito, comecei a me sentir limitada. Sempre tive esse perfil “desbravadora” e uma atração muito grande pela novidade e pelo que ainda precisava ser criado. E foi nesse movimento que resolvi em 2011 empreender com uma amiga nesse mundo de prestação de serviços. Estive em uma sociedade até o ano de 2015, quando descobri que eu queria mais liberdade para trabalhar com projetos e ideias também de forma voluntária e não remunerada. De lá para cá, a Quintal de Ideias vem materializando as minhas ideias e projetos seja no campo acadêmico, de prestação de serviços para empresas e de parceria com instituições do terceiro setor. Faço tudo com muito amor e propósito e busco criar redes de pessoas que tenham causas parecidas ou complementares às minhas.

O que mais gosto nesse desafio é poder conjugar junto com outras pessoas o verbo “esperançar”, por uma economia mais regenerativa e um mundo com mais justiça social.

Amo esses encontros e eles vão ressignificando esse caminho e me trazendo muita alegria em viver.


5. WFB: Li um conteúdo em seu site que aborda a importância do Diálogo, como uma comunicação que conduz o desenvolvimento empático. Nós na Walking Football Brasil, acreditamos muito no processo de Diálogo, de Escuta Ativa. Para você qual a importância desse Diálogo e dessa construção coletiva que você aborda, e quais seriam os ganhos enquanto sociedade desse processo de comunicação e seu impacto nos negócios?


Andréa Silveira: Eu gosto muita da ideia do “caminho do meio” e do conceito de equilíbrio. Vejo um mundo hoje pautado no individualismo, onde as pessoas estão dando mais importância para os seus pequenos cercadinhos e perderam o olhar e o sentido do coletivo, do viver em comunidade. Nesse processo, criar oportunidades de encontro e diálogo para essa nossa sociedade tão fechada em si mesma, é um desafio. Acredito que precisamos muito criar e oferecer espaços de diálogo para que esses encontros de ideias e propósitos aconteçam. Onde as pessoas não tenham a opção de bloquear o contato, ou excluir de suas redes sociais ou de derrubar a conexão. Vejo as empresas interessadas em monólogos, onde elas querem falar para sociedade, mas não querem ouvir. Vejo muitas ONGs também querendo falar suas pautas e sem interesse em ouvir. É muita gente querendo falar e pouquíssima querendo ouvir e buscar esse caminho do meio. Tenho me dedicado a encontrar temas, causas e assuntos de convergência que possam levar ao encontro e diálogo entre as empresas e sociedade. O diálogo é isso, encontrar pontos de contato e de interesse mútuos para construir algo novo e que atenda aos interesses de prosperidade para todos.


6. WFB: Estamos em um momento em que as empresas são impactadas diretamente por sua reputação, ouvimos sobre ESG, sobre indicadores de impacto, sobre alinhamento com Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Como é para você ouvir sobre isso? Há coerência entre discurso e prática de modo geral?


Andréa Silveira: Eu trabalho com esses temas ambiental, social e governança, hoje traduzidos para as empresas como ESG, há mais de 20 anos. Ao mesmo tempo que dá uma alegria de ver as luzes direcionadas para temáticas tão essenciais em nossa vida, te confesso que essa luta está ainda muito longe de ser ganha. Ainda acho que os temas são tratados de forma isolada, sem conexão clara com um plano de futuro para a humanidade. Tenho um pouco de receio como os “modismos” dos temas. Ainda vejo muita empresa tentando dar uma “maquiada” no pouco que já faz para se manter na moda do dia. Eu queria saber mesmo é quem está pagando os seus impostos em dia e usando sua força de lobby, junto aos governos, para que a população tenha uma vida mais digna e o meio ambiente preservado nos territórios onde as empresas têm operações. Quais dessas empresas estão de fato cuidando dos seus trabalhadores e familiares com salários e benefícios dignos? Parece óbvio, mas no Brasil ainda não é. Eu gosto da ideia da economista inglesa Kate Raworth traduzida na “economia Donut”, onde os esforços são em direção a uma economia que tem preocupação em regenerar o planeta e cuidar das pessoas. Onde o lucro é bem-vindo, mas tem condições ambientais e sociais para acontecer.


7. WFB: Nossa organização social, atua focada no público 60+, levando esporte, saúde, educação e cultura. Apesar da população brasileira estar em um processo de inversão da pirâmide etária e já termos mais de 40 milhões de pessoas 60+ (IBGE – PNAD), ainda vejo poucos investimentos sociais privados voltados à projetos dessa natureza. Como você olha para isso e que dica você traria para organizações como a Walking Football Brasil?


Andréa Silveira: Eu acredito muito nas oportunidades de investimento social para pessoas 60+ que a Walking Football Brasil está liderando e desbravando no Brasil. As políticas públicas podem e devem sim ser influenciadas para atender cada vez mais esse grupo social e as empresas têm muitas oportunidades de engajamento.

Esse tema do envelhecimento é ainda cercado de preconceito no Brasil. A nossa cultura é voltada para a eterna juventude, onde precisamos estar sempre com a aparência jovem e quem envelhece é descartado.

Como esses limites que se impõem à temática, eu acredito que as organizações precisam ter muitos projetos de educação, conscientização e engajamento dentro dessa necessidade de refletir sobre uma vida ativa e plena. Acredito muito no caminho a ser trilhado a partir da missão de vocês em cocriar soluções e experiências de longevidade e fortalecer os vínculos intergeracionais. Eu entendo que as organizações que trabalham com a temática 60+ devem se unir e se fortalecer. Vejo um caminho muito próspero e fértil pela frente.


8. WFB: Estamos chegando ao fim desse bate-papo incrível. O que você diria para quem está nos lendo, e que eu não pensei em perguntar à você?


Andréa Silveira: Eu diria para terem fé sempre. Fé na vida, fé nas boas ideias, fé nas pessoas, fé no bem ao próximo, fé no viver em comunidade, fé em um mundo próspero, fé no possível e no impossível. A vida acontece para quem tem fé.


9. WFB: Andréa, muito obrigado pelo carinho e tempo dedicado à essa conversa deliciosa. Uma última pergunta. Vivemos esses últimos tempos com os desafios impostos por uma pandemia, e que nos fez refletir sobre tantas coisas, mas acreditamos que há muito a se fazer enquanto sociedade. Qual seria o futuro sonhado para você?


Andréa Silveira: O meu futuro dos sonhos é coletivo, comunitário, diverso, colorido, com justiça social, com oportunidades de escolha, onde cabe todo mundo. Onde a gente como ser humano faz parte do meio ambiente e é integrado a ele, sem egocentrismo ou superioridade. É um futuro de uma humanidade atenta e ativa pelo bem comum. Eu queria viver dentro da Economia Donut da Kate Raworth. Esse sonho me move e é para lá que eu vou.

 

Foto: Andréa Silveira


Para saber mais sobre a Quintal de Ideias acesse:


Sobre o Walking Football Brasil A WFB é uma organização da sociedade civil (OSC) responsável por trazer ao Brasil a modalidade esportiva Walking Football, com foco na prática do futebol voltada ao público 60+, disseminando e organizando o esporte no país. Atua diretamente com a população sênior no Brasil levando experiências para uma longevidade ativa. Atua em três eixos fundamentais para o impacto positivo da população 60+, que atualmente representa mais de 40 milhões de brasileiros, sendo eles: Esporte e Saúde; Educação e Cultura. Foi premiada em 2020 com o Selo de Direitos Humanos e Diversidade do município de São Paulo, pela sua atuação na democratização de suas atividades e projetos. Durante a pandemia criou campanhas como Movimenta.me levando experiências positivas para idosos em isolamento social, e em parceria com Museu do Futebol, realizou lives e diálogos com idosos em suas casas, integrando os projetos, Revivendo Memórias e Movimenta Me.


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